Complexo de Judas


“um belo discurso disfarça qualquer má intenção, fazendo do soberbo traidor o mais generoso e humilde dos homens”



Cada dia fica mais notório a polarização que vem caracterizando a sociedade brasileira, ninguém está disposto a rever as próprias opiniões e para sustentá-las se valem de todo tipo de argumento; não importando se são válidos, verdadeiros ou mesmo se fazem sentido; vale até ignorar a língua portuguesa. Para isso o argumento absurdo é quase o mesmo: a garantia de direitos fundamentais. Que belo discurso para esconder as intenções escusas.
              
Em nome de garantir os direitos dos pobres de ter um julgamento justo, com ampla defesa, vale até soltar poderosos condenados em duas instâncias. Embora o texto Constitucional e legal (infraconstitucional) seja o mesmo de quando a prisão em segunda instância foi autorizada, pela mesma corte, pouco tempo antes, agora os interesses mudaram, embora seja necessário cumprir a literalidade constitucional em nome da garantia de direitos do mais pobre ao mais rico; apenas os poderosos gozaram dos efeitos dessa decisão. Afinal de contas o ladrão de galinha custa a conseguir uma apelação para a segunda instância, quem dirá para o STF.
            
O argumento lindo de garantia de direitos não para por ai, serve para autorizar o aborto, afinal de contas temos que garantir o direito fundamental da mulher sobre seu próprio corpo, mesmo que isso custe a vida de outro indivíduo – que não faz parte do seu corpo, nem a ele está ligado –, indivíduo esse indefeso, com direitos garantidos pela legislação, e que goza dos mesmos direitos fundamentais que sua genitora. Além disso, como lembra a jurista Janaina Paschoal ninguém tem direito sobre outra pessoa, uma das características dos direitos fundamentais é serem personalíssimos e inalienáveis, ou seja, não se transfere nem se “abre mão”, respectivamente.
            
Quando parece que isso é coisa só de progressista, aparece a galera dando um “cala boca” em um grupo de humor por ofender suas crenças religiosas, não que os progressistas não façam isso, pois fazem com muito mais competência. Mas se hoje exigimos do poder público que cale quem quer seja, amanhã pode ser nossas igrejas a serem fechadas e nossa fé proibida. E sempre com o mesmo discurso, a defesa dos direitos fundamentais.
            
Contraditoriamente eu defendo os meus direitos fundamentais acachapando os mesmos direitos fundamentais do meu concidadão... “Isso é humano, demasiadamente humano”. Postura tanto da esquerda progressista, quanto da direita reacionária. São faces da mesma moeda, nenhuma dessas ideologias sabe o que é democracia.
            
Para explicar esse fenômeno vale recorrer ao complexo de Judas. No livro “A Máfia dos Mendigos”, o pastor e economista Yago Martins nos leva a refletir sobre a postura de Judas (o autor usa a expressão “espírito de Judas”) ao ver uma mulher derramar um óleo caríssimo aos pés de Jesus, assim protesta: “Por que este perfume não foi vendido, e o dinheiro dado aos pobres?”[1]Perceba que se trata da mesma coisa, aparentemente a fala do discípulo traidor é irrefutável, quem condenaria um discurso que visa defender direitos dos mais pobres? Ninguém!
            
Contudo nos versículos seguintes a máscara de Judas é retirada, quando o texto nos informa que ele detinha a bolsa de dinheiro e não tinha o menor interesse na causa dos mais necessitados, estava unicamente interessado no lucro que poderia ter com aquilo.
            
De maneira idêntica a máscara cai nos nossos dias, quando percebemos que a decisão em revogar a permissão da prisão em segunda instância é apenas para beneficiar seus aliados ou protegidos, o discurso pró-aborto não tem nada a ver com direitos ou dignidade da mulher, está atrelado ao desejo pela libertinagem, descompromisso e irresponsabilidade, pois no fundo não querem assumir o ônus de serem responsáveis pelos próprios atos. Bem como o discurso pela liberdade religiosa não passa de ressentimento e se trata da mesma atitude dos progressistas quando querem calar a opinião dos que lhe são contrários.
            
Enfim, um belo discurso disfarça qualquer má intenção, fazendo do soberbo traidor o mais generoso e humilde dos homens.





[1]Evangelho segundo João 12.5

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