Educação cristã como a mais excelente expressão da educação clássica
Não é segredo pra ninguém que a pedagogia moderna vem fracassando em todas as suas investidas, seja por abraçar ideologias, seja pelo desinteresse de governos e burocratas (tanto na esfera pública como privada), ou mesmo pela simples ausência de competência das pessoas envolvidas com o ensino.
Mas calma; não tenho o interesse de ofender ninguém, a incompetência a que me refiro, não se trata de falta de conhecimento técnico; pois é exatamente a presença do conhecimento técnico que está atrapalhando a pedagogia moderna. Na verdade quando se reduz o magistério a um arcabouço de competências adquiridas em um curso, necessariamente se destruiu por completo o oficio do professor.
Assim, ouso afirmar que a resposta a esse dilema não está nos pensadores atuais, ou nas ideologias e filosofias que estão sendo desenvolvidas na academia hodiernamente. Mas como toda resposta sólida e útil, ela está em analisar o passado, a história, a tradição que nos trouxe até aqui, pois na verdade a modernidade fez e continua fazendo exatamente como descrito na anedota em que se joga o bebe fora junto com a água do banho; dominados pela ânsia do progresso, abandonamos tudo que nos formou e nos trouxe até aqui.
Assim, buscamos demonstrar como a pedagogia clássica praticada na Grécia Antiga e que foi o padrão até a idade média, é o único modelo útil e relevante para a atividade docente. Para isso vamos apresentar uma definição simples, mas não simplista, do que é o modelo clássico de educação, apresentando suas duas características marcantes, em seguida vamos mostrar como o cristianismo é uma expressão mais excelente desse modelo; e por fim, faremos uma análise da parábola do semeador contada por Cristo e registrada nos evangelhos, sendo que aqui usaremos o registro que está no Evangelho segundo Lucas, capítulo 8, versículos 4 a 15.
O que é educação clássica?
Pois bem, para começarmos, imperioso se faz entender o que é educação clássica. O leitor pode primeiramente pensar que se trata de ensinar esse ou aquele conteúdo, entretanto não é esse o marco da educação clássica, em outras palavras não é o que se ensina que define o padrão clássico. Nesse sentido, nas palavras do professor Rafael Falcón (palestra disponível no YouTube), se um curso trabalha com textos dos filósofos ou poetas gregos mas não busca os mesmos objetivos que esses, não estaremos diante de um ensino moldado pela educação clássica. Portanto o que marca o modelo clássico de ensino são duas características.
Primeiro, o objetivo do estudo ou ensino é o conhecimento da verdade, da sabedoria; sendo assim não se pode separar o método do conteúdo. Ou seja, desde o início a sabedoria precisa estar presente, não se ensina a ler cartilhas, mas se ensina a ler textos que são realmente úteis para mostrar os valores de uma vida moldada pela verdade. Ensinar a criança "eva viu a uva" não lhe dá nenhum contato com a verdade ultima da existência, com a sabedoria, com os valores que vão direcioná-la a uma vida valorosa, com objetivo de ser cada vez melhor.
Nesse sentido podemos dizer que não devemos estudar gramática ou aritmética, música e outras disciplinas; mas estudamos pela gramática, música, aritmética... Pois cada disciplina olha para a realidade com certo foco, entretanto o objetivo é um só, conhecer a verdade, a realidade; é lapidar nossa alma para uma vida cada vez melhor no exercício da sabedoria, dos valores que fazem bem a nós e aos que estão à nossa volta.
Segundo e mais importante, contudo mais difícil de se perceber, é o professor. Obviamente se o objetivo da educação são os valores, a verdade, a sabedoria; certamente aquele que ensina precisa ter o mais profundo contato com essa verdade para poder transmitir tal conhecimento e experiência. É necessário que o professor seja imbuído de virtude, uma força moral que o impele a buscar a verdade e a conduta reta, para que sempre possa se aperfeiçoar e cada vez mais estar apto a transmitir os valores verdadeiros e a sabedoria que elevam a alma humana.
Observando essas duas características fica evidente que apenas uma educação focada na realidade, na busca da verdade, será realmente benéfica para cada indivíduo e consequentemente para a sociedade. Portanto a educação moderna se perdeu exatamente pelo fato de não perceber essas características essenciais tanto no modo de estudar e ensinar, como na postura do professor, sendo completamente dominada pela visão de mundo humanista, a educação moderna é comparada pelo professor Rafael Falcón a um cadáver em decomposição, pois uma vez que se estabelece a ruptura entre o método e o objetivo da educação, inicia-se um processo de fragmentação do conhecimento da realidade, da sabedoria, da verdade; que será de difícil reversão, impossibilitando até mesmo a vida plena e livre do indivíduo. Trataremos da liberdade em outro momento.
A educação cristã é essencialmente clássica
Talvez um leitor cristão ao ler o título desse artigo se interessou, mas quando percebeu que a comparação é com um modelo grego tenha pensado que não há nenhuma relação. Mas vamos juntos compreender.
Certamente há uma separação entre o pensamento grego e o cristianismo promovido pela religião, é certo que o politeísmo grego afasta-se demasiadamente da fé cristã; contudo o espírito grego, a busca incansável do pensador grego pela verdade ultima das coisas o aproxima do ensino do nosso Senhor Jesus Cristo. Mas ai surge a questão: como?
A diferença existente está no fato de que aos gregos não foi dado compreender que a verdade ultima da existência é Cristo, ou ao menos deveria ser apenas essa a diferença. Infelizmente muitos cristãos estão se rendendo a filosofia humanista e abandonando a busca pelo conhecimento profundo de Jesus, dando mais importância a eventos sociais, comemorações e promoção humana.
Nesse sentido ouso parafrasear nosso Senhor Jesus ao falar com a mulher samaritana (diálogo registrado no evangelho segundo João 4.22): "os gregos buscam a verdade sem saber quem é, nós buscamos a verdade que sabemos quem e onde está, pois a verdade é Cristo."
Ora, acredito que já tenha ficado claro que a verdade é Cristo, portanto tudo que buscamos aprender é para que estejamos cada vez mais perto do nosso Senhor Jesus Cristo, se estudamos gramática, matemática, música ou qualquer outra disciplina, deve ser necessariamente para que nossa alma se engrandeça e glorifique mais ao nosso Deus através do aperfeiçoamento da nossa conduta.
Portanto nesse sentido é que o ensino cristão nas igrejas e seminários deve ser a mais excelente expressão da educação clássica, pois não podemos estudar apologética, mas estudar Cristo através da apologética, não podemos estudar escatologia, mas estudar Cristo através da escatologia. Ou seja, qualquer conhecimento que não nos leve para mais perto de Cristo não terá nenhum valor.
Por fim precisamos ressaltar que não só o estudo teológico deve nos levar para perto do nosso Senhor, mas todo o conhecimento deve sim nos levar para perto de Jesus. Pois quanto mais conheço a realidade a minha volta mais compreendo a grandeza de Deus e me curvo a Ele, pois o conhecimento nos humilha, mostrando que somos pequenos e insuficientes, mas ao mesmo tempo nos coloca de joelhos diante do Deus Vivo que criou todas as coisas.
A parábola do semeador
Por fim, mas não menos importante, temos a parábola do semeador como a apresentação de um modelo de estudante e de professor, bem como uma apresentação dos problemas da educação. Nesse texto vamos trabalhar apenas o modelo de estudante e de professor.
Segundo o relato do evangelista Lucas, Jesus fala sobre um semeador que saiu a semear. Apenas essa frase nos mostra que não era o semeador, era um (artigo indefinido), portanto não se trata efetivamente do semeador mais hábil, perfeito. Portanto trata-se de qualquer um que se coloque na função de pregador ou professor.
Na sequência Jesus diz que algumas sementes caíram a beira do caminho e foram pisadas pelos homens e comida pelas aves, outras caíram sobre pedras, outras sobre espinhos e por fim outras caíram em boa terra e produziu fruto, cem frutos por semente.
Perceba que aqui o semeador deixa que as sementes caiam, obviamente não é assim que um semeador age. Um agricultor escolhe onde plantar, prepara a terra para receber a semente e ai sim realiza o plantio. Contudo o que Jesus quer nos ensinar é que a semente da verdade é lançada na terra, é a Palavra de Deus que está a disposição de todos, cabendo a cada cristão anunciar essa verdade ultima de todas as formas disponíveis; seja pela pregação, pela profissão que desempenha ou mesmo pelo ensino, chamado secular - que de secular não tem nada, pois toda verdade e conhecimento vêm de Deus.
Parte da semente cai a beira do caminho e é pisada pelos homens. Há pessoas que pisam a semente da verdade, do conhecimento, afinal de contas ver a semente tão pequena em meio a correria da vida é algo extremamente difícil, por isso acabamos por desprezar, pisar e matar o conhecimento que poderia frutificar maravilhosamente em nós. Há pássaros que comem algumas dessas sementes, Jesus diz que são espíritos malignos; aqui podemos comparar a postura de satanás que age contra Deus, basta lembrarmos que Jesus repreende Pedro sem que esse esteja possesso, simplesmente por querer impedir a vontade de Deus, nesse sentido há pessoas que comem a semente, são alimentados, entretanto o benefício é muito pouco pois se valem do conhecimento de maneira egoísta e por pouco tempo, desprezando logo depois, assim como os pássaros através das fezes.
Outra porção de sementes caiu sobre pedras, há pessoas tão duras e secas que Jesus compara com as pedras. Pessoas que não mudam, uma rocha para mudar leva anos de ação dos ventos, chuva e tudo mais, há pessoas que não se curvam às verdades, rejeitando a ação da palavra de Deus, da verdadeira sabedoria, do verdadeiro conhecimento. Esses são os que dão ouvidos às fabulas e falsas verdades como nos alertou Paulo na carta a Timóteo, capítulo 6, versículo 20.
Outras caíram em espinhos, há pessoas tão presas às coisas terrenas que não conseguem perceber a beleza do conhecimento, do ensino, e acabam por tornarem suas mentes tão afiadas para o mal que desprezam todo e qualquer benefício da verdade.
Por fim caíram sementes em boa terra e frutificaram. Ora, a boa terra é aquele que entende que o conhecimento deve transbordar através de si. Não somos fonte de conhecimento, tampouco da verdade; contudo ao nos aproximarmos de Cristo, da fonte da vida e da verdade, seu ensino, sua Gloria, passa a ser visto em nossas ações, em nossos estudos e falas, pois passamos a viver e anunciar a verdade de Cristo para todos a nossa volta.
Que possamos ser pessoas de coração apto a receber a semente e deixar que ela gere frutos, para em seguida sermos semeadores que anunciam essa verdade eterna de que Cristo é único redentor da humanidade e de toda a criação.
REFERÊNCIAS E INDICAÇÕES DE LEITURA:
ILUSTRAÇÃO:
Imagem: Escola de Atenas (1506-1510) - afresco de Rafael Sanzio.
Extraído de https://pixabay.com/pt/photos/escola-de-arte-de-atenas-rafael-1143741/ - consultado em 17/04/2023.
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